Mais da metade dos municípios brasileiros registraram conflitos de terra nos últimos 40 anos. Mais de 40% de todos os conflitos no campo ocorreram na Amazônia. Os dados estão no Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, documento inédito, lançado nesta semana. O trabalho foi feito por pesquisadores da Universidades do Estado do Rio de Janeiro e da Federal Fluminense, com a contribuição de outras universidades. E teve como base o registro feito pelo Cedoc (Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno), criado em 1985.
De lá para cá, foram registradas mais de 50 mil ocorrências de conflitos. Desse total, cerca de 80% dos conflitos foram causados por fazendeiros, empresários, grileiros, pelo Estado, entre outros atores do tipo. E 20% foram causados pelos movimentos sociais. Os gráficos foram apresentados pelo professor de Geografia, da Federal Fluminense, Luiz Jardim Wanderley.
“Muitas vezes o agronegócio gosta de falar: ‘mas a culpa do conflito no campo é culpa dos movimentos sociais’. Mas, não. Quem produz essa violência tem sido cada vez mais o capital, o agronegócio, a mineração, os grandes empresários. São esses os grandes provocadores de conflitos no campo”.
O estudo também reconheceu padrões históricos. Até 2023, do total de conflitos, 84% foram disputas por terra; 9%, casos de trabalho escravo; e 7%, conflitos pela água. Regionalmente, cerca de 30% dos conflitos no campo ocorreram na região Centro-Sul; 25% no Nordeste; e 44% na Amazônia, como detalhou o professor de Geografia da UERJ, Paulo Alentejano.
“Os conflitos na Amazônia, diferente dos conflitos no campo brasileiro como um todo que tem uma certa oscilação ao longo do tempo, no caso da Amazônia é só crescimento. Teve 255 conflitos no primeiro período; 554, no segundo; 632, no terceiro; e 903, a média anual, com fortíssima concentração: Acre, Rondônia, Sul de Mato Grosso, todo o o sul e sudeste do Pará, mas avançando para o oeste do Pará e Marannhão muito forte”.
Na última década, houve um aumento dos conflitos da violência, especialmente contra povos e comunidades tradicionais. O período entre 2015 e 2023, é o que possui a maior média de conflitos no campo: 1.806 a cada ano.
O Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, apresentado pela Comissão Pastoral da Terra, é o mais abrangente levantamento de dados sobre os conflitos no campo.
Até a próxima sexta-feira (25), a Comissão Pastoral da Terra realiza o 5º Congresso Nacional, na cidade de São Luís, Maranhão, marcando meio século de existência.