Não é exagero dizer que a Radioagência Nacional amadureceu junto com a comunicação pública no Brasil. Essa agência de rádio nasceu como um amplificador dos conteúdos do governo federal e passou por várias mudanças, até se consolidar como uma referência na distribuição de jornalismo em áudio, de graça, para as rádios do país.

No ar há 21 anos, a Radioagência começou quando a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ainda era Radiobrás. Nessa época, em 2004, a missão da empresa era dar publicidade aos atos e ações do Poder Executivo federal.

Kátia Sartório era chefe do radiojornalismo da Radiobrás, vinda de uma agência de rádio de São Paulo. E ela via o conteúdo produzido diariamente pela equipe dela entrando nas ondas do rádio para se perder em seguida.


São Paulo (SP), 03/10/2025 – Equipe da Radioagência Nacional
Foto: Radioagência Nacional/Arquivo
São Paulo (SP), 03/10/2025 – Equipe da Radioagência Nacional
Foto: Radioagência Nacional/Arquivo

Equipe da Radioagência Nacional Foto: Radioagência Nacional/Arquivo – Radioagência Nacional/Arquivo

“Nós fomos com um projeto de criar a redação multimídia, que era justamente o aproveitamento de todo o material que era produzido, para não se perder e ser reaproveitado”.

Antes disso, a única forma das emissoras do país aproveitarem o conteúdo produzido era retransmitindo o jornal da Rádio Nacional, como conta Kátia Sartório.

“Eles não podiam entrar com o comercial, porque é isso que as rádios vivem, é do comercial, né? Então nós demos para eles uma oportunidade de incluir esse material de acordo com o ritmo e a programação deles”.

Agências de rádio, claro, já existiam. Mas de graça, nenhuma. E, assim, 450 emissoras se cadastraram para usar o conteúdo da Radioagência.

Radiobrás vira EBC

Na época, o foco estava no governo federal. Tempos depois, a Radiobrás virou EBC, a primeira empresa de comunicação pública federal. O país se esforçava por recuperar o tempo perdido, diante das nações onde a radiodifusão já nasceu pública. Um jornalismo independente do governo, que tem a missão de amplificar as mais diversas vozes que temos no Brasil.

E foi com a missão de levar a Radioagência para essa nova realidade que Juliana Cézar Nunes começou a chefiar a agência de rádio, em 2008.

“Tinha uma equipe que aproveitava o material que era produzido na época na Radiobrás, mas tinha também a possibilidade de assessores dos ministérios, da presidência, publicarem conteúdo também. E aí quando eu chego e está se construindo a EBC, uma das primeiras tarefas que a gente teve foi de fazer essa separação. E fazer também uma adequação editorial para aprofundar nos princípios da comunicação pública.”

A Radioagência transforma seu jornalismo e, segundo Juliana, para mostrar ao mercado que tinha credibilidade e qualidade, mirou em conteúdos especiais, diversidade e prêmios.

“A gente começou a refletir sobre a importância de fortalecer a Radioagência enquanto um veículo. E foi quando começamos a construir projetos de radiodocumentários especiais, poder concorrer a prêmios e, com isso, fortalecer a marca e também ganhando essa credibilidade no próprio meio jornalístico”.

E os prêmios vieram. Libero Badaró, Petrobras de Jornalismo, Sebrae… e veio também a necessidade de ampliar a voz da Radioagência num momento de integração da América Latina. Nasceu, então, o Voces Del Sur.

“Num momento que a EBC se articulava com as emissoras da América Latina. Ele chegou a ser utilizado por algumas rádios, principalmente na Argentina, e a gente recebeu alguns feedbacks interessantes do Equador, da Bolívia”.

Declínio e nova ascensão

Tanto o Voces del Sur como outras iniciativas da Radioagência foram descontinuadas em um período de desafios para o jornalismo público. A partir de 2017, a comunicação de governo voltou, aos poucos, a ter força nos veículos da EBC. A estrutura foi reduzida, com programas de demissão voluntária em massa.

E muitos temas, como covid-19, vacina, ditadura, homofobia e até agrotóxicos eram censurados. Mas não sem resistência. Adrielen Alves foi editora na primeira equipe da Radioagência, lá atrás, e, anos depois, voltou para coordenar o veículo em 2017. Ela foi uma das pessoas a enfrentar o desafio.

“A gente foi se norteando, obviamente, pelos nossos manuais e pelo nosso senso crítico. A gente era uma equipe de editores muito incríveis, muito críticos, mas também muito sábios. Nunca foi fácil, mas acho que foi um espaço para a gente poder se firmar. Olha, comunicação pública é assim que se faz, independente de governo, independente de gestão, a gente está aqui para poder mostrar o que o jornalismo tem apurado, olhando vários lados, não só um”. 

Hoje, a Radioagência passa por um intenso processo de reconstrução. As rádios que usam o conteúdo dela passam de 4 mil. São veiculadas, também, matérias de emissoras da Rede Nacional de Comunicação Pública.


São Paulo (SP), 03/10/2025 – Reunião de planejamento da Radioagência Nacional.
Foto: Radioagência Nacional/Arquivo
São Paulo (SP), 03/10/2025 – Reunião de planejamento da Radioagência Nacional.
Foto: Radioagência Nacional/Arquivo

Reunião de planejamento da Radioagência Nacional. Foto: Radioagência Nacional/Arquivo – Radioagência Nacional/Arquivo

E uma pesquisa feita no ano passado pela EBC apontou que ela é o serviço mais buscado da empresa para jornalismo de áudio. Mas a força desses dados é mais evidente em histórias como a que Adrielen Alves conta.

“Fui visitar a família do meu marido, bem no interior do Maranhão, mesmo. Em algum momento, meu marido falou com o dono da lanchonete que eu trabalhava na Rádio Nacional. Aí ele: vamos ali na rádio agora. Fui na rádio, e eles baixavam o conteúdo da Radioagência. Muito incrível. E eles montavam a programação com esse material. E me fizeram uma entrevista ao vivo. Quando eu terminei essa entrevista que eu voltei pra pracinha, veio todo mundo abraçar. É o poder da comunicação pública, da Radioagência e da Rádio Nacional”.

Em um país onde o rádio ainda é o único veículo de comunicação que chega em muitas comunidades, garantir que histórias como essas sigam se realizando é, para Juliana, Kátia, Adrielen e pra mim, que sou editora da Radioagência, garantir plenamente o sentido de existência da comunicação pública.


São Paulo (SP), 03/10/2025 – Kátia Sartório
Foto: Radioagência Nacional/Arquivo
São Paulo (SP), 03/10/2025 – Kátia Sartório
Foto: Radioagência Nacional/Arquivo

Kátia Sartório, chefe do radiojornalismo da antiga Radiobrás Foto: Arquivo

 

“As emissoras de rádio do interior, principalmente, não têm equipe de jornalismo. E aí, o que que nós oferecemos para eles, né? Distribuímos de graça, né, um material muito rico. Porque a informação é um direito do cidadão”, destaca Kátia Sartório.

Juliana Cézar Nunes também fala desse papel:

“Eu costumo dizer que acho que a Radiagência contribui para a realização plena do sentido da comunicação pública, porque ela leva esse conteúdo, amplifica em uma escala enorme e em lugares que são os chamados desertos de notícia, mesmo. Eu desejo vida longa para que a Radioagência continue cada vez mais cumprindo e intensificando a sua missão”.

Em setembro, na véspera de completar 21 anos, a Radioagência Nacional alcançou mais de 700 mil usuários e mais de 1 milhão de acessos. E que venham muito mais!




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